Gostaria de contar a história de uma amizade,já posta à prova em relação a sua consistência, e forte como uma união de sangue.
Há uns dez anos,entrava eu em uma sala de aula, iniciando uma nova turma. Pra mim aquilo era um evento rotineiro, pois os alunos, embora fossem pessoas diferentes,quando colocados em grupos e situações já padronizadas, assumiam comportamentos semelhantes a tantos outros de semestres anteriores. No entanto, naquela turma, um aluno em especial chamou minha atenção. Eu sentia que seu potencial era maior que sua extrema timidez lhe permitia, pois mesmo assim, meio inseguro e cabisbaixo, conseguia sobressair-se dentre todos os outros. Chamei-o para trabalhar comigo e, em pouco tempo, tornou-se apto a ensinar. Tinhamos quase a mesma idade, idéias parecidas e, a partir daí, teve inicio algo que, embora nem suspeitássemos, se tornaria uma grande amizade.
As posições mudavam, fui seu chefe, depois nos tornamos colegas de trabalho, mudávamos de empresa, mas logo, em questão de meses, por indicação de um ou do outro, estávamos juntos novamente. E, assim os anos se passaram, vi sua familia sendo construida, o nascimento do seu filho, acompanhei seus dramas, suas alegrias, e ele as minhas. Tentamos nos enveredar por outras áreas de trabalho, falhamos, passamos extremas dificuldades, sofremos, mas depois, quando tudo acabava, juntos dávamos belas risadas, lembrando e contando as mancadas um do outro.
Éramos, onde quer que estivéssemos, sempre os piadistas da turma, chego a dizer até que "avacalhamos" alguns ambientes reconhecidamente sérios. Mas era um deboche saudável, que contagiava os outros e nos deixava mais leves para enfrentarmos as pedreiras que a vida de professor nos impõe.
Um dia saí de um emprego e ele ficou, quando nos encontramos alguns meses depois em outra empresa (como era de praxe), ele me disse que aqueles meses tinham sido horríveis pois o lugar não era o mesmo se eu não estivesse lá. Não deixei que ninguém percebesse, mas aquilo me emocionou muito, pois era exatamente assim que eu me sentia.
Há alguns meses, tivemos que decidir se gostariamos de mudar de ramo radicalmente, e como sempre, tomamos essa decisão em conjunto e resolvemos encará-la. Foi difícil no início, pois como profissionais de atuação dinâmica, era difícil para nós ficarmos sentados executando um trabalho que, embora fosse interessante, se mostrava extremamente burocrático. Bem, por motivos que fogem a minha compreensão, apenas eu consegui me adaptar a essas mudanças e hoje não estamos mais juntos e sinto que dessa vez não nos encontraremos mais.
Claro que continuamos amigos, brincamos, jogamos bola, rimos... mas ainda me custa crer que amanhã vou chegar no escritório, na escola, onde quer que seja e não vou mais vê-lo fazendo de suas graças, contando piadas nos intervalos... ainda tento não olhar pro lado e ver aquela cadeira vazia.
"Business is Business" fala o cruel mundo dos negócios, e isso é um fato, eu sei. Mas sempre achei que cresceríamos juntos, me parecia errado ter sucesso sozinho. E, embora nada possa fazer agora, um dia quem sabe eu vença na vida e consiga trazer meu amigo de volta, para que além de ter dinheiro, eu possa voltar a sorrir...
Um amigo é alguém que sabe a canção de seu coração e pode cantá-la quando você tiver esquecido a letra
(Autor Desconhecido)